segunda-feira, 14 de agosto de 2006

Futuro da Internet


Especialistas Especulam Sobre Futuro da WEB

Quando Robert E. Kahn e Vinton Cerf criaram o protocolo TCP/IP, lançaram, sem saber, os alicerces da internet de hoje. Guru Parulkar, actuando há 20 anos na área de redes, hoje é diretor de programas da divisão de sistemas de computadores e redes da National Science Foundation, onde trabalha na iniciativa GENI, uma pesquisa da internet do futuro. Kahn e Cerf também têm seu papel no futuro da internet: Kahn é presidente do conselho, CEO e presidente da Corporation for National Research Initiatives e Cerf é evangelista-chefe de internet do Google.


COMPUTERWORLD - A internet está melhor hoje do que há cinco anos?
CERF - A internet está pelo menos cinco vezes maior do que há cinco anos. Continua a funcionar confiavelmente e os sistemas subjacentes têm maior capacidade absoluta. Continua a se expandir para suportar novas aplicações, incluindo jogos interactivos em tempo real, voz, ferramentas colaborativas e aplicações peer-to-peer. Novos conteúdos estão surgindo na rede e as ferramentas de busca se tornaram muito mais sofisticadas. A rede continua a suportar novas aplicações inventadas diariamente. O acesso wireless proliferou e os telefones móveis estão cada vez mais habilitados para internet. Serviços de localização geográfica também estão mais presentes.

CW - Na internet, a inteligência reside na borda. Nas redes de telecomunicações actuais, ela reside na rede. À medida que os dois mundos convergirem, estes modelos vão continuar a coexistir?
PARULKAR - No modelo original da internet, a rede não é só um mecanismo de transporte de pacotes. Há muita inteligência dentro da rede, sob a forma de servidores e dispositivos. No futuro, teremos que pensar num equilíbrio. Quanta inteligência iremos precisar? Claramente já existe um reconhecimento de que esta arquitectura precisa ser revista.Além disso, estamos falando de três cenários. O primeiro é que a internet talvez se aproprie de algumas idéias das redes de telecomunicações. Outra possibilidade é que surja uma infra-estrutura paralela. Uma terceira possibilidade é que a rede de telefonia e a internet se transformem na mesma coisa. A rede de telefonia está se fundindo com a internet. Dentro de 20 anos talvez vejamos isso acontecer.
KAHN - Gosto de pensar na internet sem bordas. Cada vez mais, os fornecedores de rede vão descobrir maneiras de fazer coisas inteligentes dentro de suas redes. A pergunta então passa a ser até que ponto eles podem trabalhar com fornecedores de aplicativos de modo a melhor satisfazer as necessidades dos usuários?

CW - O que mais o surpreendeu no modo como a internet evoluiu?
KAHN - Com a chegada do computador pessoal, de repente o número de máquinas que poderiam ser conectadas era de milhares, dezenas de milhares, mais ainda. Alguns argumentam que há perto de um bilhão de usuários na internet. Isto pra mim foi uma grande surpresa. Quando criamos o projecto original, tínhamos idéias de escalabilidade e modularidade em mente, o que é um motivo de orgulho. O facto de ter funcionado não foi uma surpresa, embora não esperássemos que fosse nessa escala. Por outro lado, o uso inapropriado da internet foi um tanto inesperado. Não pensei que as pessoas fossem utilizá-las tão impropriamente.

CW - Quais são os desafios de usar a internet hoje para comunicação corporativa?
CERF - A internet continua sendo desafiada por vírus, worms, cavalos de Tróia e ataques denial-of-service contra hosts e infra-estrutura. Adaptou-se para proporcionar o acesso de empresas às redes virtuais privadas (VPNs), mas os firewalls e os dispositivos de tradução de endereços de rede às vezes interferem nas VPNs, serviços de voz sobre pacotes e coisas do género. A autenticação de usuários ainda é um desafio e existe a necessidade de maior confidencialidade de ponta a ponta. A implementação do protocolo IPv6 continua lenta na maior parte da rede. Há problemas graves em várias camadas na hierarquia do protocolo, bem como na qualidade do software de sistema operativo que é facilmente invadido. Desenvolvedores de sistemas operativos e aplicativos não levaram em conta medidas adequadas de autenticação para controle de acesso, deixando muitos sistemas abertos a exploração.
KAHN - A segurança foi algo em que pensamos nos primórdios, mas eram tantos os obstáculos à implementação de segurança forte que não seguimos este caminho. Eu não diria que não há segurança, mas... poderia ser melhor. Gostaria de ver o problema inteiro do gerenciamento de identidade abordado para que fosse possível autenticar informação ao obtê-la. Mas não sei se isso é uma limitação. É só um anseio por algo que poderia ser melhor.
PARULKAR - Se você observar o mercado wireless móvel, percebe que a internet não foi projectada para este grau de mobilidade. O endereço IP é idêntico a um ponto de conexão onde você faz uma interface com a rede. Se as pessoas se deslocam constantemente, o ponto de conexão muda constantemente. Portanto, você pode continuar usando endereços IP com esta arquitectura ou seria melhor separar as duas coisas? Talvez você precise ter outro nível de endereçamento.

CW - Como estes problemas serão resolvidos?
PARULKAR - Problemas de segurança, spam, robustez – não são problemas que possam ser solucionados do modo como estamos fazendo, acrescentando cada vez mais sistemas como firewalls e IDSs. Alguns são inerentes à arquitectura. Havia a pressuposição de que todo o tráfego da internet era amigável. Sabemos que não é assim. Não existem mecanismos arquitecturais fáceis para corrigir isso.
CERF - Acho que a arquitectura precisa de uma revisão básica da segurança e de algumas primitivas incorporadas para que este problema seja tratado adequadamente. O acréscimo de recursos, por si só, não resolverá o problema, sem uma reformulação séria do design do sistema.

CW - Como vocês acham que a internet será em dez anos?
CERF - Terá entre 2 a 3 bilhões de usuários, mais dispositivos na rede do que pessoas, imensos arquivos de conteúdo de entretenimento, muitos serviços de terceiros para gerenciar dispositivos habilitados para internet, muito acesso wireless, grande quantidade de fibras e cabos de alta velocidade para consumidores, dispositivos móveis totalmente capacitados para a web, serviços de busca muito mais refinados com componentes verticais significativos, muito mais interacção colaborativa, transações financeiras expressivas, propaganda online mais diversificada e uma internet interplanetária com dois planetas operacionais – Terra e Marte – e planos de estender para outros planetas.
KAHN - É um veículo de interacção social. De interacção comercial. De acesso a informação. Também é muito frágil porque requer cooperação ao redor do mundo para funcionar. Espero que continue assim. O potencial de interacção entre empresas (B2B) não foi explorado nem perto do que poderia ser. Hoje, a maioria das pessoas acessa web sites corporativos para ver o que as empresas estão oferecendo, talvez fazer pedidos. Mas isso está só no começo. A capacidade da própria internet facilitar o encontro de organizações virtuais será muito importante. Ainda não aconteceu realmente, mas acho que é um dos próximos passos que veremos.
PARULKAR - A comunidade de pesquisa tem que olhar para além da internet, e o GENI é isso. O GENI tem duas partes. Uma é pesquisa. A outra são instalações experimentais onde pesquisadores podem demonstrar e implementar tecnologias em escala. Existe meia dúzia de infra-estruturas experimentais que a NSF apoiou. PlanetLab é um tipo de infra-estrutura experimental global. Suporta as chamadas redes de camadas virtuais ou “virtual overlay networks” sobre a internet. O paradigma é uma infra-estrutura física que possa ser usada pelas equipes do meu pessoal ao mesmo tempo que para implantar suas próprias idéias – uma infra-estrutura física divisível em "fatias" virtuais. Dentro da "fatia", elas podem implementar sua própria pilha de protocolos e serviços e demonstrar aquilo. A importância disso é que você pode dar a diferentes pessoas uma parcela de um recurso, mas elas pensam que o recurso inteiro pertence a elas. Todo mundo concorda que é um óptimo meio para uma estrutura de pesquisa interessante. Mas algumas pessoas estão dizendo que talvez seja, também, uma óptima estrutura operacional. O que os usuários querem é poder criar sua própria rede virtual com seu próprio comportamento, segurança, robustez e qualidade de serviço. Ao invés do transporte ponto a ponto, se você lhes der o mecanismo pelo qual obtêm sua própria rede virtual, as corporações ficarão mais felizes. Os fornecedores podem vender algo com maior valor agregado do que VPNs. Podem oferecer serviços ainda mais sofisticados para os clientes.

Linha do Tempo
1957 – A União Soviética lança o Sputinik, o primeiro satélite criado pelo homem. Em resposta à iniciativa o presidente norte-americano Eisenhower cria a Agência de Projetos e Pesquisas Avançadas (ARPA) dentro do Departamento de Defesa.

1962/1968 – As redes de switches de pacotes são desenvolvidas.

1969 – O Departamento de Defesa autoriza o funcionamento da Arpanet para pesquisas em rede, com o primeiro nó na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, seguido por nós na Universidade de Stanford, na Universidade da California, em Santa Barbara, e na Universidade de Utah.

1971 – O primeiro e-mail é enviado.

1973 – As primeiras conexões globais para a Arapanet são estabelecidas, com nós na Universidade de Londres e no Royal Radar, na Noruega.

1974 – Cerf e Kahn publicam “Um protocolo para intercomunicação com a rede de pacotes”, que hoje é reconhecido como o documento de base que descreve pela primeira vez como conectar diferentes redes de pacotes.

1976/1982 – Kahn e Cerf lideram o desenvolvimento dos protocolos TCP e IP para a Arapanet. Estes protocolos se tornarão o backbone da internet.

1984 – O número de hosts excede mil. O sistema de nomes de domínios é criado.

1989 – O número de hosts ultrapassa os 100 mil.

1990 – Arpanet não existe mais, simbolizando a comercialização da internet. O número de hosts é superior aos 300 mil.

1991 – A World Wide Web, desenvolvida por Tim Berners-Lee é lançada pelo CERN. A web oferece um sistema de hipermídia distribuída para a internet.

1993 – O browser gráfico Mosaic é criado por Marc Andreessen e sua equipe no Centro Nacional para Aplicações de Supercomputação. A Casa Branca e as Nações Unidas estão online.

1994 – Comunidades locais de Lexington e de Cambridge, em Massachusetts estão online e a internet começa a tocar a sociedade de muitas maneiras e em muitos níveis.

1998 – A Microsoft entra nos mercados de provedores de serviços de rede e browsers.

2006 – A internet é omnipresente com acessos wireless e milhões de nós e está se transformando num veículo fundamental de transações na economia global.

[Publicada na Edição 454 do Jornal Computerworld]
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